A voz do Pároco


MONS.  VITTORIO FERRARI
Vigário Geral da Diocese de Parnaíba
Nota de Repúdio


Com uma profunda angústia no coração voltamos a repetir as palavras que escrevemos um ano atrás (bem triste é este aniversário!!) após os eventos sacrílegos acontecidos no Santuário: “Repudiamos com firmeza e condenamos com todas as nossas forças o gesto covarde, violento e sacrílego com que, na noite de sábado 14 de julho de 2012, foi violado o recinto sagrado do Santuário da Mãe dos Pobres e Senhora do Piauí. Olhamos com tristeza a ação de quem derrubou, quebrou e desprezou as imagens, colocadas neste Santuário para celebrar a memória de Cristo e de sua Mãe Santíssima, e nasce em nós a angústia e a preocupação por vermos o caminho de degradação e destruição da convivência civil e responsável para qual se encaminha a nossa juventude. Dizia Goya, já faz mais de um século: “O sono da razão gera monstros”. É monstruoso aquilo que uma inteligência, desprovida de valores e dominada pelas forças brutas do instinto e da violência, unida aos efeitos das drogas e da irresponsabilidade pode produzir.”
    Novamente, nesta noite de terça feira, 03 de julho de 2013, foi violado este recinto sagrado do Santuário, mas nesta noite a mão sacrílega, covarde e violenta foi direcionada, por uma mente que renuncia à sua própria grandeza e dignidade, não mais contra as imagens artísticas que embelezam o nossa Santuário e sim contra a obra prima e a imagem indestrutível do próprio Deus: o ser humano. Uma menina de quinze anos foi morta barbaramente aos pés do grupo escultóreo que representa a Anunciação. A primeira pergunta que vem à mente é esta: “Será que o poder do mal é tão profundo e poderoso, neste nosso tempo, ao ponto de tornar ineficaz até a presença dAquele que se fez próximo para nos trazer o próprio Amor de Deus?” Olhar com angústia e horror para este acontecimento não é mais suficiente! Precisa retomar a coragem para uma presença que saiba propor novamente aquela novidade que Jesus Cristo testemunhou até o fim: o respeito, a valorização, a afeição para cada pessoa reconhecida e acolhida na sua inviolável dignidade de filho de Deus!
    Assim, enquanto manifestamos nossa solidariedade e proximidade para com a família desta jovem vítima da absurda violência, renovamos a firme reprovação destes eventos e solicitamos também a resposta dos poderes públicos para que sejam garantidas, nesta nossa cidade, as condições para a segurança e o restabelecimento dos direitos fundamentais da convivência civil.
    Enfim, não podemos esquecer o gesto fundamental da nossa fé, a Oração, como sufrágio e, ao mesmo tempo, como pedido ao Cristo e a nossa Senhora para todos que estão envolvidos neste trágico acontecimento.
                                                           Ilha Grande, (PI) 03 de julho de 2013.

Pe. Vittorio Ferrari.




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 Cultura Cristã 
e nova linguagem



    Ainda me surpreendo ao pensar na decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que por ‘unanimidade’, reconheceu o direito da união entre pessoas do mesmo sexo e me pergunto de onde pode ter surgido tal segurança (unanimidade!!!) que parece contradizer todas as evidências que constituem nossa tradição e nosso jeito cristão de ver a realidade e olhar para o conjunto dos relacionamentos humanos, sobretudo na área da sexualidade. Fico me perguntando qual foi a força misteriosa (o poder culto) que conseguiu criar esta nova ordem mundial, esta revolução cultural em todos os níveis, atingindo até a própria legislação.
    Procurando entender como isso pode ter acontecido, tive a oportunidade, nestes dias, de ler umas reflexões sobre o assunto, no jornal semanal da Santa Sé: L’Osservatore Romano e na síntese de uma ‘palestra’ sobre: “O poder da palavra. Verdade e ideologia nos organismos internacionais” ministrada por Dom Silvano Tomasi, observador da Santa Sé junto à ONU. Ele,falando de sua experiência em Genebra, “lugar onde se gera cultura diariamente”, afirmou – lembrando que lá residem 30 mil funcionários de organismos internacionais, que realizam mais de 9 mil conferências por ano – que “é com a criação de uma nova linguagem, combinada com uma visão extremista da não discriminação”, que vem se criando e impondo uma ideologia contrária ao pensamento tradicional (que tem sua raiz no cristianismo) e que acaba incidindo na vida concreta das pessoas gerando, antes ainda que nós possamos nos dar conta disso, um novo conjunto de convicções e comportamentos. “Partner”, “gender”, “saúde reprodutiva” são alguns termos do novo vocabulário utilizados pelas instituições internacionais, substituindo os conceitos tradicionais de “esposo (a)”, “homem/mulher”, “anticoncepção e aborto”. Neste contexto, um destaque especial alcançou a palavra ‘GÊNERO’ que veio a substituir, progressivamente, na nova linguagem oficial, os conceitos de homem e mulher transformando, assim, a sexualidade numa livre opção pessoal e não mais num dado objetivo, enraizado na própria natureza. Diz Lucetta Scaraffia (docente di História Contemporânea na Universidade de Roma ‘ La Sapienza’) que, “nestes últimos trinta anos, perante a crise das grandes ideologias sócio-políticas, veio a afirmar-se como nova perspectiva de revolução, uma espécie de divinização dos Direitos humanos, sobretudo aqueles de IGUALDADE e de LIBERDADE”.
     Nas lutas travadas pela afirmação do ‘feminismo’ desenvolveu-se tamanha absolutização do conceito de igualdade que trouxe consigo a tendência a negar toda diferença e, em particular, a negação da diferença sexual. Neste contexto, aquilo que vale não é mais o reconhecimento da evidência do dado natural (a diferença entre o ser homem ou mulher) e sim a absoluta e individual liberdade de opção. Esta perspectiva, esta nova forma de olhar para a igualdade (como eliminação de todas as diferenças!) ganhou uma aceleração através da separação, cada vez mais profunda, entre sexo e reprodução (e também entre sexo e matrimônio!) e colocou os alicerces para esta nova situação, codificada pela decisão do STF. Diante desta situação, que vem trazendo e codificando uma radical mudança dos parâmetros de referência da nossa cultura, somos provocados a refletir seriamente sobre a urgência de uma nova ação cultural e evangelizadora em defesa e pela promoção daquela visão própria do Cristianismo que traz para todos a verdadeira liberdade.

Mons. Vittório Ferrari

Fonte:Diocese de Parnaíba

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