MONS. VITTÓRIO FERRARI
Vigário Geral da Diocese de Parnaíba
e nova linguagem
Ainda me surpreendo ao pensar na decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que por ‘unanimidade’, reconheceu o direito da união entre pessoas do mesmo sexo e me pergunto de onde pode ter surgido tal segurança (unanimidade!!!) que parece contradizer todas as evidências que constituem nossa tradição e nosso jeito cristão de ver a realidade e olhar para o conjunto dos relacionamentos humanos, sobretudo na área da sexualidade. Fico me perguntando qual foi a força misteriosa (o poder culto) que conseguiu criar esta nova ordem mundial, esta revolução cultural em todos os níveis, atingindo até a própria legislação.
Procurando entender como isso pode ter acontecido, tive a oportunidade, nestes dias, de ler umas reflexões sobre o assunto, no jornal semanal da Santa Sé: L’Osservatore Romano e na síntese de uma ‘palestra’ sobre: “O poder da palavra. Verdade e ideologia nos organismos internacionais” ministrada por Dom Silvano Tomasi, observador da Santa Sé junto à ONU. Ele,falando de sua experiência em Genebra, “lugar onde se gera cultura diariamente”, afirmou – lembrando que lá residem 30 mil funcionários de organismos internacionais, que realizam mais de 9 mil conferências por ano – que “é com a criação de uma nova linguagem, combinada com uma visão extremista da não discriminação”, que vem se criando e impondo uma ideologia contrária ao pensamento tradicional (que tem sua raiz no cristianismo) e que acaba incidindo na vida concreta das pessoas gerando, antes ainda que nós possamos nos dar conta disso, um novo conjunto de convicções e comportamentos. “Partner”, “gender”, “saúde reprodutiva” são alguns termos do novo vocabulário utilizados pelas instituições internacionais, substituindo os conceitos tradicionais de “esposo (a)”, “homem/mulher”, “anticoncepção e aborto”. Neste contexto, um destaque especial alcançou a palavra ‘GÊNERO’ que veio a substituir, progressivamente, na nova linguagem oficial, os conceitos de homem e mulher transformando, assim, a sexualidade numa livre opção pessoal e não mais num dado objetivo, enraizado na própria natureza. Diz Lucetta Scaraffia (docente di História Contemporânea na Universidade de Roma ‘ La Sapienza’) que, “nestes últimos trinta anos, perante a crise das grandes ideologias sócio-políticas, veio a afirmar-se como nova perspectiva de revolução, uma espécie de divinização dos Direitos humanos, sobretudo aqueles de IGUALDADE e de LIBERDADE”.
Nas lutas travadas pela afirmação do ‘feminismo’ desenvolveu-se tamanha absolutização do conceito de igualdade que trouxe consigo a tendência a negar toda diferença e, em particular, a negação da diferença sexual. Neste contexto, aquilo que vale não é mais o reconhecimento da evidência do dado natural (a diferença entre o ser homem ou mulher) e sim a absoluta e individual liberdade de opção. Esta perspectiva, esta nova forma de olhar para a igualdade (como eliminação de todas as diferenças!) ganhou uma aceleração através da separação, cada vez mais profunda, entre sexo e reprodução (e também entre sexo e matrimônio!) e colocou os alicerces para esta nova situação, codificada pela decisão do STF. Diante desta situação, que vem trazendo e codificando uma radical mudança dos parâmetros de referência da nossa cultura, somos provocados a refletir seriamente sobre a urgência de uma nova ação cultural e evangelizadora em defesa e pela promoção daquela visão própria do Cristianismo que traz para todos a verdadeira liberdade.
Mons. Vittório Ferrari
Diocese de Parnaíba
Realamente o mundo ta de ponta cabeça!
ResponderExcluirDeus abençoe a todos!